PONTOS IMPORTANTES
- Apendicite é a inflamação do apêndice cecal aguda devido a obstrução de seu lúmen, causando acúmulo de líquido com aumento da pressão intraluminal, hiperemia, infecção secundária, congestão venosa e, por vezes, isquemia e necrose.
- A obstrução pode ser causada por hiperplasia linfoide (~60%), apendicolito (~33%), corpos estranhos (~4%) ou outras causas menos comuns (Doença de Crohn, tumor, parasitas).
- Imagem
- US ⇨ apêndice distendido (≥ 7 mm), não compressível e com paredes espessas, com hiperecogenicidade da gordura periapendicular.
- TC ⇨ apêndice distendido ± realce mural, associado a densificação da gordura periapendicular.
- O diagnóstico clínico é incorreto em ≈20% dos homens jovens e ≈40% das mulheres jovens. É também frequente erro em crianças pequenas e idosos.
- Possíveis complicações: perfuração com formação de abcesso periapendicular ou peritonite generalizada; pileflebite (trombose séptica da veia porta e ramos); abcesso hepático (geralmente em conjunto com pileflebite).
- Caso o apêndice esteja normal e houver somente linfonodomegalias na fossa ilíaca direita, lembrar do diagnóstico diferencial de adenite mesentérica.
IMAGEM
Apêndice distendido (≥ 7 mm), com paredes espessas e inflamação da gordura periapendicular. A distensão do apêndice é um achado sensível, mas pouco específico se não houver inflamação periapendicular.
Localizando o apêndice
A localização do apêndice é variável, e seu comprimento também (2-20 cm). Uma dica é encontrar a transição ileocecal (o íleo não tem fundo cego) e procurar ao redor do ceco a partir deste ponto (ao redor do ceco e em sua porção mais distal). O apêndice pode estar situado:
- Atrás do ceco (retrocecal ascendente): 65%
- Inferiormente ao ceco (subcecal): 31%
- Atrás do ceco (retrocecal transversal): 2%
- Anterior ao íleo (pré-ileal paracecal ascendente): 1%
- Posterior ao íleo (retroileal paracecal ascendente): 0,5%
US
Ultrassonografia requer compressão da região dolorosa para afastar alças com gás, para permitir a visualização do apêndice. A avaliação também pode ser dificultada em casos de apêndice em localização retrocecal, bem como em pacientes obesos.
Apêndice distendido (diâmetro ≥ 7 mm), não compressível e com paredes espessas.
- Medir o diâmetro de parede externa até parede externa.
- Sinal sonográfico de McBurney ⇨ dor focal sobre apêndice.
- Sombra acústica posterior relacionada a apendicolito ecogênico.
- Aumento do fluxo ao Doppler nas paredes do apêndice, indicando inflamação (sensibilidade 85% e especificidade 90%).
- Utilizar como achado adicional para suportar o diagnóstico em casos equívocos.
- Velocidade de pico sistólico >10 cm/s sugerida como ponto de corte.
- Índice de resistividade (IR) medido em >0,65 pode ser mais específico.
- Aumento da ecogenicidade da gordura periapendicular inflamada.
TC
A TC é o método de escolha para a avaliação por imagem de apendicite, com acurácia superior à ultrassonografia.
Típico ⇨ apêndice distendido (diâmetro ≥ 7 mm), com paredes espessadas ± realce, associado a densificação de planos adiposos periapendiculares.
- Mucosa inflamada pode apresentar realce.
- Se necrose da parede, pode não haver realce.
- Densificação da gordura periapendicular ⇨ inflamação.
- Apendicolito pode estar presente em 15-40% e, por vezes, não é calcificado.
- ± espessamento reacional da parede do ceco e/ou do íleo distal.
- Líquido livre intraperitoneal / periapendicular
- Complicações:
- Perfuração com formação de abcesso periapendicular ou peritonite generalizada.
- Pileflebite ⇨ trombose séptica da veia porta e ramos.
- Abcesso hepático ⇨ geralmente em conjunto com pileflebite.
RM
Boa alternativa à TC em pacientes grávidas e crianças quando persistir a dúvida mesmo após a ultrassonografia.
RX
Método limitado para investigação de apendicite.
- Apendicolito visível em < 5% dos pacientes em RX abdome simples
- Níveis hidroaéreos em alças intestinais na fossa ilíaca direita, devido à inflamação e íleo adinâmico local.
- Obscurecimento da margem do psoas direito (linha do psoas).
- Quando há perfuração:
- Obstrução intestinal.
- Pneumoperitônio.
- Deslocamento das alças intestinais da fossa ilíaca direita.
CONCEITOS GERAIS
Epidemiologia
- ♂ = ♀
- Qualquer idade, com pico entre 10 e 30 anos.
- 7% da população de países ocidentais desenvolve apendicite durante a vida.
Clinica
- Dor periumbilical que migra para a fossa ilíaca direita.
- Irritação peritoneal no ponto McBurney,
- Anorexia, náuseas, vómitos, diarreia, possível febre.
- Sinais atípicos em > ⅓ dos pacientes.
Importância da imagem ⇨ diagnóstico clínico é incorreto em ≈20% dos homens jovens e ≈40% das mulheres jovens; é também frequente erro em crianças pequenas e idosos; pode ou não haver leucocitose.
Patologia
A inflamação geralmente começa na ponta do apêndice. Quando há perfuração (10 a 20% dos casos), geralmente ocorre também na ponta.
Prognóstico
Prognóstico excelente com cirurgia precoce.
Possíveis complicações:
- Perfuração com formação de abcesso periapendicular ou peritonite generalizada.
- Pileflebite ⇨ trombose séptica da veia porta e ramos.
- Abcesso hepático ⇨ geralmente em conjunto com pileflebite.
Tratamento
Cirurgia e antibioticoterapia.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
- Adenite mesentérica e enterite
- Linfonodomegalias agrupadas no mesentério e na fossa ilíaca direita.
- +/- espessamento da parede ileal devido a enterite.
- Apêndice normal.
- Dor à palpação.
- Diagnóstico da exclusão: apendicite também pode causar linfadenopatias regionais e espessamento da parede intestinal.
- Ileocolite
- Doença de Crohn
- Segmento mais longo de envolvimento do íleo distal.
- Em fase subaguda ou crónica pode ter hiperplasia fibrolipomatosa ao redor das alças intestinais.
- Patologias ginecológicas
- Rotura do corpo lúteo (“balão colapsado” com realce parietal).
- Piossalpinge ⇨ trompa dilatada com nível líquido-líquido.
- Doença inflamatória pélvica (DIP) ⇨ obliteração de planos adiposos ao redor dos órgãos pélvicos. Sinal do útero indefinido com indistinção de sua parede posterior.
- Endometriose apendicular
- 4-22% das pacientes com endometriose.
- Diagnóstico desafiador ⇨ espessamento apendicular nodular e não homogêneo em paciente com endometriose.
- Diverticulite cecal
- Espessamento mural de divertículo situado na parede do ceco, com conteúdo hiperdenso, associado a inflamação de planos adiposos adjacentes.
- Espessamento da fáscia conal lateral.
- Tumor no apêndice
- Carcinoma, linfoma, carcinoide, mucocele
- Massa de partes moles infiltrando e/ou obstruindo o apêndice.
- Normalmente pouca invasão de planos adjacentes.
- Carcinoma cecal
- Pode obstruir o orifício apendicular.
- Apêndice dilatado, sem inflamação periapendicular.
- Massa centrada no ceco associada a linfadenopatia sugerem tumor ao invés de apendicite.
- Considerar especialmente em pacientes idosos.
- Fibrose cística
- Apêndice pode ser distendido mas não inflamado.
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