ANATOMIA

Os meniscos são estruturas em formato de semilua (forma de “C”) situadas na articulação do joelho, interpondo-se entre a tíbia e o fêmur nos compartimentos femorotibiais medial (menisco medial) e lateral (menisco lateral). São compostos por fibrocartilagem, que é um tipo de tecido resistente e flexível que pode absorver choques e resistir ao desgaste. O menisco medial é maior que o lateral.

Lesão meniscal - anatomia meniscos

Partes dos meniscos

Cada menisco possui as seguintes partes: raiz anterior, corno anterior, corpo, corno posterior e raiz posterior.

Lesão meniscal - anatomia meniscos partes

Fontes: cartilagerestoration.org e www.radsource.us

Lesão meniscal - meniscos anatomia raizes

MM: menisco medial; ML: menisco lateral.

Em todas as partes de cada menisco, podemos nos referir a sua superfície capsular e superfícies articulares superior e inferior, bem como sua margem livre e região periférica. Utilizamos esses termos na descrição de lesões meniscais.

Lesão meniscal - padronizacao nomenclatura

Funções

  • Ajudam a distribuir o peso de forma uniforme através da articulação do joelho, o que minimiza a sobrecarga de qualquer ponto específico.
  • Ajudam a estabilizar o joelho, permitindo que ele se mova suavemente e de maneira controlada.
  • Atuam como amortecedores, absorvendo o impacto quando corremos, pulamos ou fazemos outros movimentos de alto impacto.

Vascularização

A irrigação sanguínea dos meniscos é limitada. A periferia externa dos meniscos recebe sangue de pequenas artérias ao redor do joelho, enquanto a parte interna dos meniscos (mais próxima ao centro do joelho) não tem suprimento sanguíneo direto.

Os ⅔ centrais são avasculares (zona branca) e o ⅓ externo é vascularizado (zona vermelha). Além disso, vale destacar que a vascularização é mais proeminente em crianças.

Esta limitação no suprimento de sangue tem implicações significativas para a cicatrização de lesões meniscais: as lesões situadas na periferia externa tem maior probabilidade de cicatrização, enquanto as mais próximas à margem livre (parte interna), tem menor probabilidade de cicatrização.

Lesão meniscal - meniscos vascularizacao

Zona vermelha: até 3 a 4 mm da superfície capsular. Zona branca: restante (porção mais interna do menisco). Não há diferença de sinal entre as zonas vermelha e branca pela RM.

Lesão meniscal - zonas lesoes

Divisão dos meniscos em zonas: zona 1 (periferia), 2 (intermediária) e 3 (borda livre). Lesões situadas dentro ou que atingem a periferia tem maior chance de cicatrização espontânea.

Inervação

São inervados principalmente por ramos articulares do nervo tibial, que contribuem para a sensação de dor e desconforto quando há lesão meniscal.

Ligamentos relacionados

  • Ligs. menisco-poplíteos superior e inferior: conectam o corno posterior do menisco lateral ao tendão poplíteo, delimitando um recesso articular chamado recesso poplíteo, o qual é um potencial pitfall que pode ser confundido com rotura longitudinal vertical do corno posterior do menisco lateral.
Lesão meniscal - lig popliteo meniscais hiato popliteo anatomia

O hiato poplíteo é um pequeno recesso articular delimitado entre os ligamentos poplíteo-meniscais superior e inferior, o tendão poplíteo e o corno posterior do menisco lateral. A imagem da esquerda é de um corte sagital no plano do menisco lateral. ML: menisco lateral; LMF: lig. menisco femoral (Wrisberg); LPF: lig. poplíteo-fibular. Fontes: Radiographics 2014, 34: 981-999 e radsource.us

  • Ligs. meniscofemorais (Humphrey e Wrisberg): estendem-se do corno posterior do menisco lateral para a parede medial do teto intercondilar.
    • Lig. meniscofemoral anterior (lig. de Humphrey): tem trajeto anterior ao ligamento cruzado posterior (LCP).
    • Lig. meniscofemoral posterior (lig. de Wrisberg): tem trajeto posterior ao LCP.
    • Nem sempre estão presentes:
      • ≈ 70 – 100 % das pessoas tem um ou ambos (Humphrey -/+ Wrisberg).
      • ≈ 35 – 76 % das pessoas tem o lig. de Wrisberg.
      • ≈ 26 – 50 % das pessoas tem o lig. de Humphrey.
      • ≈ 6 – 17 % das pessoas tem ambos (Humphrey + Wrisberg).
Lesão meniscal - ligs wrisberg e humphrey anatomia

LCP: ligamento cruzado posterior.

  • Lig. transverso (lig. intermeniscal de Winslow: estende-se do corno anterior do menisco lateral ao corno anterior do menisco medial. Os pontos de fixação podem ser confundidos com roturas verticais.
Lesão meniscal - lig transverso meniscos

Fonte: MANASTER, B.J., CRIM J. (2016). Imaging anatomy. Musculoskeletal. 2ed.

AVALIAÇÃO POR IMAGEM

Roturas meniscais podem ser de natureza traumática ou degenerativa. As degenerativas ocorrem mais comumente no corno posterior do menisco medial, e geralmente são do tipo horizontal, apesar de que pacientes com artrose podem desenvolver lesões complexas. Lesões verticais, radiais e complexas são mais frequentemente traumáticas.

Em radiografias simples (RX), as roturas meniscais não são visíveis. Em raros casos, podem ser observados achados indiretos, tais como aumento de partes moles quando houver cisto perimeniscal grande, ou fraturas correlatas.

A tomografia computadorizada (TC) também tem baixa acurácia para avaliação de lesões meniscais. Todavia, a artro-TC tem aplicação na investigação de re-lesão meniscal no pós-operatório de meniscectomia ou sutura meniscal. Na artro-TC, as imagens são adquiridas após injeção intra-articular de meio de contraste iodado.

O método de escolha para avaliação de lesões meniscais é a ressonância magnética (RM), com acurácia de cerca de 90%. Além disso, a artro-RM (após injeção intra-articular de meio de contraste paramagnético) tem acurácia ainda maior, e geralmente é reservada para avaliação pós-operatória meniscal para pesquisa de re-lesão, principalmente quando há dúvida diagnóstica na RM convencional.

  • ROTURA MENISCALlesão linear com hipersinal em T2 estendendo-se a superfície articular superior e/ou inferior do menisco.
  • Caso a alteração de sinal não apresenta extensão às superfícies articulares, não é um rotura meniscal, podendo ser:

Tipos de roturas

Lesão meniscal - Tipos de lesoes meniscais

  • Lesão longitudinal vertical ⇨ orientação perpendicular ao platô tibial e paralela ao eixo longo do menisco (o eixo do menisco é um semicírculo). Pode ser de espessura total ou parcial, dependendo se há comunicação com as superfícies articulares superior e inferior do menisco, ou somente com uma delas.

Lesão meniscal - lesao long vertical menisco

    • Lesão em alça de balde ⇨ subtipo de lesão longitudinal vertical que se estende do corno anterior ao posterior, com alça deslocada para o assoalho da fossa intercondilar ou para o espaço articular femorotibial. Caso a alça se desloque para o espaço articular, pode haver bloqueio articular em flexão, limitando a extensão completa do joelho.

Lesão meniscal - alca balde

Rotura longitudinal vertical em alça de balde do menisco medial, com alça (setas) deslocada para o assoalho da fossa intercondilar. LCP: lig. cruzado posterior.

Lesão meniscal - tipos alca balde

A alça geralmente permanece conectada ao menisco pelos cornos anterior e posterior (A e B), mas pode haver rotura da alça, tornando-se um flap meniscal (C e D). Fonte: radsource.us

    • Ramp lesion ⇨ lesão vertical na junção meniscocapsular ou na periferia do corno posterior do menisco medial.

Lesão meniscal - ramp lesion

Ramp lesion é um tipo de lesão que ocorre exclusivamente na junção meniscocapsular OU na periferia do corno posterior do menisco medial. A lesão meniscocapsular é diagnosticada quando há interposição completa (“de cima até embaixo”) de sinal líquido entre o corno posterior do menisco medial e a cápsula articular. Por outro lado, se a lesão for na periferia do corno posterior (ao invés de na junção meniscocapsular), a rotura pode ser de espessura total ou parcial, da mesma forma que lesões verticais em outras localizações. Fonte: Arthroscopy Techniques, v. 5, n. 4, p. e871–e875, 2016

Lesão meniscal - ramp e edema sobrecarga

Ramp lesion associada a edema ósseo por sobrecarga mecânica no platô tibial medial.

    • Zip lesion ou Wrisberg rip ⇨ tipo de longitudinal vertical que ocorre na inserção dos ligamentos meniscofemorais (Wrisberg e Humphrey) no corno posterior do menisco lateral. O critério utilizado para diferenciar uma lesão Zip de um recesso normal na inserção dos ligamentos meniscofemorais é que, quando há lesão, a “fissura vertical” se estende por mais do que 5 mm no eixo laterolateral a partir do ponto no menisco de inserção dos ligamentos meniscofemorais.

Lesão meniscal - zip 2

Mecanismo de lesão da Zip lesion (ou Wrisberg rip): trauma com translação anterior da tíbia, tracionando a insercão meniscal dos ligamentos meniscofemorais (Wrisberg e Humphrey).

Lesão meniscal - zip wriberg lesion

Lesão do tipo Zip (ou Wrisberg rip) no corno posterior do menisco lateral. Veja que a “fissura vertical” se estende por mais do que 5 mm no eixo laterolateral a partir da inserção meniscal dos ligamentos meniscofemoraisFonte: European Radiology, v. 21, n. 1, p. 151–159, 2011

  • Lesão horizontal ⇨ orientação paralela à superfície articular superior ou inferior do menisco. Divide o menisco em metades superior e inferior. São frequentemente associadas com degeneração meniscal.
Lesão meniscal - lesao horizontal corno posterior men medial

Lesão horizontal no corno posterior do menisco medial, comunicando-se com sua superfície articular inferior (seta amarela).

    • Lesão horizontal com flap (lesão do tipo “flap horizontal“): subtipo de lesão horizontal associada a flap meniscal.
Lesão meniscal - flap horizontal

Rotura horizontal no corpo do menisco medial, comunicando-se com sua superfície articular inferior (seta amarela), associada a flap meniscal de 0,3 cm que se insinua ao recesso perimeniscal inferior (seta vermelha).

  • Lesão radial ⇨ orientada como se fosse um raio do semicírculo do menisco. Pode ser parcial ou completa: se restrita à margem livre é parcial; se houver extensão até a superfície capsular, é completa.

Lesão meniscal - radial parcial

Rotura radial parcial do corno posterior do menisco medial.

Lesão meniscal - radial completa

Rotura radial completa do corno posterior do menisco medial.

    • Lesão radial de raiz ⇨ subtipo de rotura radial localizada em uma das raízes dos meniscos (raiz anterior ou posterior). Essas lesões cursam comumente com extrusão meniscal e aumentam o risco de fraturas por insuficiência e desenvolvimento de artrose.
  • Lesão meniscal - lesao radial completa da raiz posterior do menisco medial

    Rotura radial completa da raiz posterior do menisco medial (seta amarela), associada a extrusão parcial do corpo meniscal em relação à interlinha articular femorotibial.

    • Bico de papagaio ⇨ subtipo de rotura radial com extensão longitudinal vertical, formando um “flap vertical”.
Lesão meniscal - parrot beak menisco

Lesão em bico de papagaio (subtipo de lesão radial que apresenta extensão longitudinal vertical). Fonte: radsource.us

  • Lesão complexa ⇨ combinação de 2 ou + padrões de rotura (horizontal, vertical e radial). Pode ou não ter aspecto macerado.
Lesão meniscal - lesao complexa

Lesão complexa com componentes vertical e horizontal.

Achados associados

  • Flaps meniscais ⇨ partes do menisco, ainda conectadas a ele, deslocadas para fora de sua topografia habitual. Flaps podem se insinuar para recessos perimeniscais (superior e inferior), para o espaço articular femorotibial, para a fossa intercondilar, para outros recessos articulares (anterior ou posterior, por exemplo), dentre outros locais.

Lesão meniscal - desenho flap

Desenho de um flap meniscal. Fonte: radsource.us

Lesão meniscal - flap recesso perimeniscal superior

Flap meniscal insinuado a partir do corpo meniscal para o recesso perimeniscal superior.

Lesão meniscal - flap posterior

Flap meniscal insinuado a partir do corno / raiz posterior para o recesso articular posterior.

  • Impacto osteomeniscal ⇨ impacto entre um flap meniscal deslocado para o recesso perimeniscal inferior junto ao platô tibial (lateral ou medial), onde se observa edema ósseo e infradesnivelamento da cortical óssea.
Lesão meniscal - impacto osteomeniscal

Flap meniscal (seta vermelha) insinuado a partir do corpo meniscal para o recesso perimeniscal inferior, associado a sinais de impacto osteomeniscal na margem do platô tibial medial, caracterizados por edema ósseo (seta amarela) e discreto infradesnivelamento cortical (linha pontilhada)

  • Sinovite focal (“perimeniscite”) ⇨ processo inflamatório reacional em partes moles perimeniscais, geralmente relacionado a lesões meniscais.
Lesão meniscal - perimeniscite sinovite focal

Lesão horizontal no corno posterior do menisco medial (seta laranja), comunicando-se com sua superfície articular inferior, associada a sinovite focal (“perimeniscite”) adjacente. A perimeniscite nada mais é do que o edema (hipersinal em T2) na gordura junto à superfície capsular do menisco.

  • Extrusão meniscal ⇨ insinuação do menisco em > 3 mm em relação à margem da articulação femorotibial. O principal tipo de rotura meniscal associado a extrusão meniscal é a rotura radial. Quando há artrose do joelho, é comum haver extrusão meniscal também, mesmo sem rotura radial. A extrusão meniscal aumenta a probabilidade de fraturas por insuficiência e de evolução para artrose.

Lesão meniscal - extrusao meniscal seta

Extrusão do corpo do menisco medial em relação à interlinha articular femorotibial.

Lesão meniscal - extrusao medida

Método para mensurar a extrusão meniscal: medir da superfície capsular do menisco até a linha que conecta as margens das superfícies articulares do fêmur e da tíbia. Se maior que 3 mm, há extrusão meniscal. Fonte da imagem: J. Pers. Med. 2022, 12, 2004.

  • Cisto perimeniscal ⇨ líquido articular atravessa a rotura meniscal e forma cisto junto à superfície capsular do menisco; pode haver mecanismo valvular, com formação de grandes cistos, que podem inclusive apresentar extensão para partes moles extracapsulares. Geralmente associado a roturas meniscais horizontais.

Lesão meniscal - Cisto parameniscal

Lesão meniscal horizontal (seta laranja) associada a cisto perimeniscal (seta amarela).

Lesão meniscal - Cisto perimeniscal grande

Lesão horizontal do corno posterior do menisco medial, associada a cisto perimeniscal com extensão para partes moles extracapsulares junto aos tendões da pata anserina. Radiographics 2014, 34: 981-999.

  • Cisto intrameniscal ⇨ mesmo mecanismo de formação do cisto perimeniscal.
Lesão meniscal - cisto intrameniscal

Lesão horizontal no corpo e corno posterior do menisco medial, comunicando-se com sua superfície articular superior, associada a cisto intrameniscal.

  • Lesões condrais e ligamentares associadas

O que descrever no laudo

  • Morfologia / tipo da lesão: horizontal, longitudinal vertical, complexa, radial, radial da raiz, alça de balde, etc.
  • Extensão longitudinal: ao longo do eixo semicircular do menisco. Se a lesão for do tipo radial completa, a extensão longitudinal será a medida do gap na região de rotura.
Lesão meniscal - extensao longitudinal

A extensão longitudinal da lesão é sua extensão ao longo do eixo semicircular do menisco.

  • Espessura total ou parcial: se a lesão atingir as superfícies articulares superior e inferior, é uma lesão de espessura total; por outro lado, se atingir somente uma destas superfícies, é uma lesão de espessura parcial. Essa distinção só faz sentido para roturas verticais e complexas, e não precisa ser mencionada em roturas radiais ou horizontais.
  • Superfície articular: extensão para a superfície articular superior, inferior ou para ambas.

Lesão meniscal - padronizacao nomenclatura

  • Zonas
Lesão meniscal - zonas lesoes

Divisão dos meniscos em zonas: zona 1 (periferia), 2 (intermediária) e 3 (borda livre). Lesões situadas dentro ou que atingem a periferia tem maior chance de cicatrização espontânea.

  • Lesões associadas: ligamentos, cartilagem, cápsula, etc.

Critérios de instabilidade

  • Flap deslocado
  • Lesão complexa
  • Lesão de espessura total
  • Extensão longitudinal > 10mm

EPIDEMIOLOGIA

  • Roturas meniscais são comuns (60 a 70 casos / 100.000 pessoas por ano) ocorrendo em uma ampla gama de populações, de atletas profissionais a idosos sedentários.
    • Raro em crianças.
    • Em jovens ativos, geralmente decorrentes de trauma agudo, como entorse do joelho. Mais frequente em esportes de contato, como futebol e hóquei.
    • 60% dos joelhos com artrose tem roturas meniscais em estudos de RM.
  • Mais comuns no menisco medial do que no lateral, devido à maior mobilidade do menisco lateral e à maior carga que é colocada sobre o menisco medial.

CLÍNICA

Sintomas e sinais clínicos mais comuns de lesões meniscais:

  • Dor no joelho: geralmente localizada na interlinha articular onde o menisco está localizado. Ela pode piorar com atividades que envolvem flexão ou rotação do joelho.
  • Edema / “inchaço”: desenvolve-se ao longo de algumas horas após a rotura meniscal. Quando ocorre mais tardiamente (24-72 horas após o trauma), pode estar relacionado a derrame articular e sinovite.
  • Bloqueio / “travamento” do joelho: incapacidade de estender completamente o joelho. Isso pode ocorrer se um “pedaço” (flap ou fragmento) de menisco se interpuser na interlinha articular
  • Sensação de instabilidade: alguns pacientes podem sentir que o joelho não está estável durante certas atividades.
  • Redução da mobilidade: a amplitude de movimento do joelho pode ser limitada devido à dor ou ao inchaço.
  • Sinal do estalido: em alguns casos, durante o exame físico, pode-se perceber um estalido quando o joelho é flexionado ou estendido.
  • Sinal de McMurray: sinal clínico que pode ser detectado durante o exame físico. Quando o joelho é flexionado e rodado, o que pode causar dor ou um estalido se houver uma lesão do menisco.
    • Paciente deitado de costas na mesa de exame (posição supina).
    • Examinador segura o joelho e o tornozelo do paciente, com uma mão em cada um.
    • Joelho é flexionado completamente.
    • Para testar o menisco medial, o examinador gira lentamente o pé e o tornozelo para fora (rotação externa), ao mesmo tempo em que estende lentamente o joelho. Para testar o menisco lateral, o pé e o tornozelo são girados para dentro (rotação interna) durante a extensão do joelho.
    • Examinador sente e ouve qualquer estalido no joelho durante estes movimentos, que podem indicar lesão meniscal. A dor durante o teste também pode indicar uma possível lesão meniscal.

TRATAMENTO

Roturas meniscais podem ter consequências significativas para a mobilidade e qualidade de vida de um indivíduo.

As lesões meniscais podem ser tratadas de maneira conservadora ou cirúrgica, dependendo de uma série de fatores, incluindo o tipo e localização da lesão, a idade e o nível de atividade do paciente, a presença de sintomas e a resposta a tratamentos não cirúrgicos.

  • Tratamento CONSERVADOR ⇨ lesões estáveis
  • Tratamento CIRÚRGICO ⇨ lesões instáveis
    • Sutura / reparo
      • Lesões verticais na zona vermelha (zona 1), extensão > 1 cm ⇨ por exemplo, alça de balde
      • Lesão de raiz ⇨ reinserção com âncora
      • Idealmente em jovens < 40a
      • Mais difícil, maior tempo de reabilitação
    • Meniscectomia parcial
      • Radial, bico de papagaio, horizontal, complexa, flaps
      • Lesões na zona branca (zona 3)
    • Reconstrução ⇨ aloenxerto, enxerto sintético, prótese meniscal

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS, PITFALLS E VARIANTES ANATÔMICAS

  • Degeneração meniscal (pode estar associada a uma rotura)
    • + comum no corno posterior do menisco medial.
    • Hipersinal em T2 dentro da substância do menisco, sem extensão para suas superfícies articulares.
      • Pode ter morfologia amorfa, globular ou até linear, mas sem comunicação com suas superfícies articulares.

Lesão meniscal - degeneracao menisco

Degeneração intrassubstancial do menisco medial. Não há evidências de roturas (lesões com comunicação com suas superfícies articulares superior ou inferior).

Lesão meniscal - degen linear

Degeneração mucoide do corno posterior do menisco medial, com alteração de sinal intrassubstancial linear sem nítida comunicação com suas superfícies articulares. Neste caso, não há caracterização de rotura, entretanto há estudos na literatura demonstrando que esse tipo de alteração de sinal linear tem a tendência de progredir para uma rotura horizontal.

  • Contusão meniscal: parte do menisco com hipersinal em T2 sem morfologia linear (sinal pode ser amorfo ou globular), no contexto de trauma. O aspecto pode ser indistinguível de degeneração intrassubstancial mucoide; o que pode ajudar a diferenciar de diferenciação é a ausência de alterações em exames anteriores pré-trauma, o contexto de trauma, e a idade do paciente caso seja jovem.
Lesão meniscal - Contusao meniscal

Contusão meniscal. Repare no edema ósseo contusional no platô tibial subjacente, relacionado ao trauma recente. Fonte: Radiol Clin N Am 51 (2013) 371–391

  • Vascularização meniscal proeminente: achado não patológico, mais frequente em crianças e jovens de até 15 anos.
Lesão meniscal - Vascularizacao menisco

Vascularização proeminente é um achado não patológico, mais comumente observado em jovens de até 15 anos, na periferia meniscal. Fonte: Radiol Clin N Am 51 (2013) 371–39.

  • Menisco discoide: variação anatômica em que o menisco tem morfologia anormalmente ampla (corpo meniscal com ≥ 13 mm no eixo coronal, ou visualização do corpo meniscal em ≥ 3 cortes sagitais para exames feitos com espaçamento entre cortes > 4 mm) e/ou espessa, semelhante a um disco, ao invés da forma habitual de semicírculo. Mais comum no menisco lateral, mas também pode ocorrer no medial. Geralmente assintomático, mas pode haver dor, inchaço, instabilidade ou limitação na mobilidade do joelho, sobretudo em casos de roturas concomitantes ou no caso da variante de Wrisberg. O menisco discoide é mais suscetível a roturas devido à sua forma e tamanho anormais. Classificação:
    • Completo ou Incompleto:
      • Completo ⇨ > menisco cobre >80% da superfície articular do compartimento femorotibial (medial ou lateral).
      • Incompleto ⇨ cobertura de <80% da superfície articular
    • Estável ou instável:
      • Estável ⇨ inserções periféricas (incluindo os ligs. menisco-poplíteos) e lig. de Wribserg normais.
      • Variante de Wrisberg ⇨ ausência dos ligamentos meniscocapsulares posteriores (em particular os ligs. menisco-poplíteos), e lig. de Wrisberg intacto.

Lesão meniscal - discoide

  • Flounce meniscal: aspecto “ondulado” da margem livre do menisco, geralmente sem nenhum significado clínico, mas eventualmente relacionado a subluxação femorotibial.
Lesão meniscal - flounce meniscal e1687790065877

Aspecto ondulado da borda livre do corpo do menisco lateral.

  • Menisco anelar: variante anatômica rara em que o menisco lateral (na maioria dos casos) se apresenta com formato de anel, ao invés da forma semicircular normal. A diferenciação entre menisco anelar e rotura meniscal em alça de balde pode ser difícil: enquanto a porção central do menisco anelar é lisa, regular e triangular, a alça de balde geralmente tem aspecto mais degenerado e com morfologia / tamanho mais irregular. Todavia, o aspecto de imagem pode ser indistinguível. Pode levar à bloqueio articular, limitação de movimento e dor. Em alguns casos, o menisco pode se apresentar como um anel completo. Em outros, pode haver uma banda de tecido adicional que se estende a partir do menisco normal e se insina à região central da articulação, dando aparência de anel parcial. É um diagnóstico diferencial importante para roturas meniscais em “alça de balde”.
Lesão meniscal - menisco anelar

Menisco lateral anelar, confirmado por artroscopia. Repare no aspecto regular e triangular da porção central.

  • Ossículo meniscal:
    • Pequena ossificação ovoide ou triangular dentro da substância do menisco.
      • Obs.: ossificação tem osso cortical e osso trabecular (esponjoso), enquanto uma calcificação não tem esse diferenciação.
    • Pode variar de minúsculo a > 1 cm.
    • + comum no corno posterior (menisco medial > menisco lateral)/
    • Etiologia indeterminada: metaplasia por trauma pregresso, degenerativo ou variante anatômica.
    • Assintomático ou dor e estalido.
Lesão meniscal - Ossiculo meniscal

Ossículo meniscal

  • Ligamento menisco-meniscal oblíquo: variante anatômica. Cruza do corno anterior de um menisco para o corno posterior do outro menisco, passando entre o LCA e o LCP. Pode ser confundido com alça de balde deslocada para o assoalho da fossa intercondilar.
Lesão meniscal - lig menisco meniscal obliquo

Ligamento menisco-meniscal oblíquo

  • Ligamento transverso: estrutura normal do joelho, que conecta os cornos anteriores dos meniscos medial e lateral entre si, atravessando a parte anterior da articulação. Sua função principal é estabilizar os meniscos, ajudando a manter sua posição correta durante o movimento do joelho e a distribuir o peso de maneira equilibrada através da articulação. O espaço entre o ligamento transverso e os cornos anteriores dos meniscos pode dar a falsa aparência de uma lesão vertical.
Lesão meniscal - lig transverso meniscos

Fonte: MANASTER, B.J., CRIM J. (2016). Imaging anatomy. Musculoskeletal. 2ed.

  • Ligamentos meniscofemorais (Wrisberg e Humphrey): estruturas normais do joelho, que conectam o corno posterior do menisco lateral à margem interna do côndilo femoral medial. O ligamento de Wrisberg tem trajeto posterior ao ligamento cruzado posterior, e o ligamento de Humphrey tem trajeto anterior a ele. Lesão meniscal - ligs wrisberg e humphrey anatomia
  • Cirurgia prévia
  • Líquido no hiato poplíteo ⇨ possível confusão com lesão vertical na periferia do corno posterior do menisco lateral.

Lesão meniscal - lig popliteo meniscais hiato popliteo anatomia

  • Ligamento meniscofemoral anteroMEDIAL (LMFAM): variante anatômica. Estrutura ligamentar que se origina no fêmur do teto da fossa intercondilar, tem trajeto anterior ao ligamento cruzado anterior, e se insere no menisco medial e na tíbia.
Lesão meniscal - LMFAM

Ligamento meniscofemoral anteromedial (LMFAM) tem trajeto anterior ao ligamento cruzado anterior e se insere no menisco medial e na tíbia. Fonte: CBR Musculoesquelético. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

  • Ligamento meniscofemoral anteroLATERAL (LMFAL): variante anatômica. Estrutura ligamentar que se origina no fêmur do teto da fossa intercondilar, tem trajeto anterior ao ligamento cruzado anterior, e se insere no menisco lateral e na tíbia.
Lesão meniscal - LMFAL

Ligamento meniscofemoral anterolateral (inserção no menisco lateral). Fonte: Knee Surg Relat Res 2016;28(3):245-248

  • Ligamento mucoso (plica infrapatelar) ⇨ pode ser confundindo com LMFAM ou LMFAL, mas ao invés de se inserir no menisco, segue cranialmente pela gordura de Hoffa para inserir no polo inferior da patela.
Lesão meniscal - plica infrapatelar

Plica infrapatelar (lig. mucoso). Fonte: MANASTER, B.J., CRIM J. (2016). Imaging anatomy. Musculoskeletal. 2ed.

  • Condrocalcinose: condição patológica em que há acúmulo de cristais de pirofosfato de cálcio di-hidratado (CPPD) nas articulações, tendões, ligamentos e fibrocartilagens, inclusive nos meniscos. Pode aumentar a intensidade do sinal na ressonância magnética.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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