PONTOS IMPORTANTES
- Metaplasia óssea benigna reativa, com ossificação heterotópica muscular centrípeta
- Massa de partes moles, benigna e autolimitada, formada por osso e cartilagem.
- Ossificação heterotópica e miosite ossificante são a mesma condição. O termo miosite ossificante é utilizado para ossificação heterotópica que ocorre no músculo. Ossificação heterotópica pode ocorrer também em outros tecidos de partes moles, incluindo fáscias (fasciíte ossificante), gordura (paniculite ossificante) e tendões. Além disso, a periostite florida e pseudotumor fibro-ósseo dos dedos são patologias com subtrato histológico similar que ocorrem no periosteo.
- Simula lesões neoplásicas agressivas, principalmente na fase inicial, quando ainda não tem calcificações.
- É uma lesão do tipo “don’t touch” ⇨ evitar biopsia durante o estágio inicial para evitar diagnósticos equivocados de tumor, pois nesta fase pode imitar sarcomas ⇨ controle evolutivo pode confirmar diagnóstico de miosite ossificante.
IMAGEM
Localização
- + frequente em locais de traumas musculares nas extremidades, entretanto 25-40% não relatam antecedente de trauma.
- Coxa anterolateral em jogadores de futebol.
- Fossa antecubital após luxação do cotovelo.
- Gordura próxima aos adutores da coxa em montadores de cavalo.
- Quando relacionado a queimaduras e lesões elétricas, + frequente em ombros e cotovelos, em seguida joelhos, quadris e mãos.
- Casos de causa neurogênica (paraplégicos) ou relacionados a próteses são + frequentes na bacia e quadris.
Aspecto de imagem
- Massa dolorosa de partes moles com crescimento rápido, associada a processo inflamatório / edema regionais.
- Estágio inicial (fase aguda)
- Massa sem calcificações, com processo inflamatório regional.
- Fase em que pode ser difícil distinguir de neoplasias.
- RX / TC ⇨ aumento de partes moles, sem calcificação.
- RM
- ↓ ou iso T1, ↑ T2 heterogêneo, realce periférico, com intenso edema de partes moles regionais.
- ± níveis líquidos internos em alguns casos.
- Estágio intermediário (fase subaguda) ⇨ após 3-6 semanas
- Desenvolve anel zonal de mineralização (ossificação) que amadurece de forma centrípeta (de fora para dentro) ⇨ a distribuição de osso mais maduro na periferia (“distribuição zonal”) é uma característica importante da miosite ossificante que ajuda a diferenciá-la de neoplasias.
- RX / TC ⇨ aparência clássica, caracterizada por massa circunscrita e halo periférico de calcificação.
- RM ⇨ iso T1 e ↑ T2, com anel periférico mineralizado de ↓T2 (anel completo ou incompleto), e realce, associada a intenso edema de partes moles regionais.
- Estágio tardio (fase madura / crônica) ⇨ após ≈ 7 meses
-
- Redução de seu tamanho e se torna uma formação óssea ovalada, com osso mais maduro na periferia do que no centro, e diminuição / resolução do processo inflamatório regional.
- Presença de fenda entre a lesão e estruturas ósseas adjacentes ⇨ útil para diferenciar de tumores ósseos de superfície (p.e., osteossarcoma parosteal).
- RX / TC ⇨ lesão menor, completamente ossificada.
- RM
- Lesão menor, com sinal de osso, ou seja, com osso lamelar maduro periférico (↓T1 e T2) e osso trabecular interno / medula óssea (↑ ou iso T1, iso T2).
- Realce e edema perilesional geralmente ausentes em lesões maduras.
-
- Medicina Nuclear
- Aumento não específico da captação óssea é observado no estágio inicial da lesão e diminui gradualmente à medida que a lesão amadurece.
- PET-FDG pode demonstrar intensa captação imitando tumores de alto grau.
CONCEITOS GERAIS
Epidemiologia
- Homens jovens (1,5♂:1♀), 15 a 35 anos ⇨ associação com trauma.
- Pacientes com lesão neurológica (paraplégicos) ⇨ episódios de trauma geralmente ausentes.
- 20-30% dos pacientes com défices neurológicos
- 33-49% dos pacientes paraplégicos
- 5% dos pacientes com artroplastia total de quadril da anca desenvolvem ossificação heterotópica periarticular (1% grave)
- Variante genética ⇨ fibrodisplasia ossificante progressiva, geralmente manifesta-se aos 5 anos de idade e torna-se grave no final da 2ª década.
Clinica
- Massa endurecida dolorosa de partes moles com crescimento rápido.
- 80% dos casos localizada em grandes músculos das extremidades, muitas vezes após trauma local, embora 25-40% não relatem antecedente de trauma.
- No caso dos paraplégicos, os episódios reconhecidos de traumatismo estão frequentemente ausentes, e a doença ocorre particularmente em torno dos joelhos e da anca.
Patologia
Evolução histológica é paralela à da imagem com progressão e padrão zonal semelhante.
- Semanas 1-4: celular com figuras mitóticas evoluindo para fibroblastos dispostos ao acaso e estroma vascular ou mixoide; pode imitar sarcomas (por isso é melhor evitar biopsias, que podem levar a diagnóstico incorreto).
- Semanas 4-8: padrão centrípeto com osteoide amorfo na periferia e centro celular.
- Após 8ª semana: organização gradual em osso periférico maduro e redução de miofibroblastos centrais.
Padrão zonal (“zoning”):
- Centro ⇨ céls mesenquimais imaturas.
- Intermediária ⇨ céls maduras (osteoblastos) produzindo matriz osteoide.
- Periferia ⇨ osso lamelar.
Prognóstico
- Não há evidências de possibilidade de transformação maligna.
- Lesões únicas relacionadas a lesão podem estabilizar ou regredir. Dependendo da localização e tamanho, podem produzir sintomas mecânicos.
- Lesões em pacientes paraplégicos (lesão SNC) tentem a não regredir. Possíveis complicações:
- Formação de pontes ósseas com redução da mobilidade .
- Desenvolvimento de ulcerações cutâneas em áreas de pressão.
- Aprisionamento de nervos, especialmente no cotovelo.
Tratamento
Tratamento conservador, AINEs, imobilização/compressão/gelo.
Após maturação da lesão, a ressecção cirúrgica pode ser considera em pacientes sintomáticos e é geralmente curativa.
Em pacientes com alto risco de ossificação heterotópica relacionada a prótese de quadril, pode ser feita profilaxia com baixa dose de radiação e AINEs (indometacina).
O etidronato oral de longo prazo pode ser útil em estágios iniciais.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Fase pré-mineralização
- Sarcomas de partes moles (p.e., sarcoma sinovial e histiocitoma fibroso maligno)
- Ø dor inicial.
- Não respeita arquitetura muscular.
- Lesão infiltrativa (invade estruturas adjacentes).
- Evolução + lenta.
- Miosite proliferativa
- Miopatia inflamatória benigna.
- Massa de partes moles com crescimento rápido, firme e dolorosa, semelhante à miosite ossificante em estágios iniciais.
- Ø mineralização (não forma ossificação).
- Iso ou ↓ T1, ↑ T2, realce intenso.
- Abcesso de partes moles
- Quadro clínico e laboratorial de infecção.
- Liquefação central.
- Mionecrose
- DM
- Ø realce
- Pode complicar com calcificações (mionecrose calcificante).
- Miosite/fasciíte nodular
- Lesão nodular bem delimitada
- Ø edema perilesional
- Ø mineralização
- Ø dor inicial
Após mineralização
- Osteossarcoma parosteal
- Formação óssea bem organizada aderida à superfície do osso
- Padrão de zoneamento oposto ⇨ o osteossarcoma parosteal organiza o osso de forma centrífuga (primeiro no centro), ou seja, com osso periférico menos maduro.
- Osteossarcoma de partes moles
- Osteoide menos organizado ou imaturo em partes moles.
- Pode ter aspecto muito semelhante à miosite ossificante em estágios iniciais, quando a mineralização ainda é amorfa.
- Padrão zonal oposto (formação de osso se inicia no centro), ou seja, com osso periférico menos maduro, além de ser globalmente menos organizado.
- Calcinose tumoral
- Hereditário.
- Calcificações periarticulares multiloculares (não é ossificação) formando massa de partes moles difusamente calcificadas ⇨ Ø componente não calcificado.
- +/- componentes císticos com níveis cálcicos.
- Também separado do osso subjacente
- Calcinose relacionada a IRC
- Insuficiência Renal Crônica (IRC).
- Imagem semelhante à calcinose tumoral com mesma distribuição.
- Mionecrose calcificante
- Complicação de mionecrose
- Deposição de hidroxiapatita (tendinopatia calcárea)
- Calcificação amorfa (não periférica), pode ter aspecto semelhante à fase subaguda, não evolui com ossificação.
- Osteocondroma
- Continuidade cortical e medular com o osso subjacente.
- Surge da metáfise dos ossos longos, com orientação no sentido de afastado das articulações
- Fibrodisplasia ossificante progressiva
- Também conhecida por Miosite ossificante progressiva ou doença de Münchmeyer.
- Mutação esporádica ou mutação autossômica dominante herdada do gene receptor de activina A tipo I (ACVR1).
- Pacientes nascidos com hálux encurtado e valgo.
- Ossificação progressiva de músculos estriados, tendões, ligamentos e fáscia musculares.
- Início na primeira infância (2-5 anos), no pescoço e ombros e progressão para tronco e extremidades
- Torcicolo é frequentemente o 1º sintoma, com nódulos.
- O alvo é tecido intersticial com envolvimento muscular secundário à atrofia por pressão
- Pontes de ossificação adjacentes aos ossos, causando eventualmente restrições graves de mobilidade.
- Morte pode ocorrer devido a infecções respiratórias recorrentes devido à restrição da parede torácica.
- O trauma, incluindo cirúrgico, pode produzir ossificação; evitar quando possível.
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