PONTOS IMPORTANTES
- Displasia fibrosa é uma anomalia benigna do desenvolvimento ⇨ não é um tumor, mas sim um distúrbio no remodelamento de osso lamelar imaturo em maduro, caracterizado por tecido fibroso displásico com trabéculas ósseas imaturas +/- componentes císticos, condroides e osteoides
- Idade ⇨ maioria início < 30 anos
- Locais + comuns ⇨ ossos longos (colo femoral), craniofacial e arcos costais
- Não tem reação periosteal, nem rotura cortical, nem componente extraósseo de partes moles
- Pode ter áreas císticas internas
- Caso haja dúvida no diagnóstico somente pela RM, sugerir complementação com RX ou TC para avaliar se há aspecto de vidro despolido
IMAGEM
Localização
- Forma monostótica (80-85%) ⇨ ossos longos (fêmur 35-40% e tíbia 20%), craniofacial (20-34%) e arcos costais (10-28%).
- Forma poliostótica (15-20%) ⇨ bacia, fêmur e tíbia
- Geralmente acometimento unilateral de um único membro, mas pode ser bilateral e acometer mais do que 2 membros
- Intramedular central
- Diáfise e metáfise >> epífise
Aspecto de Imagem
- RX / TC ⇨lesão lítica (radiolucente ou vidro despolido) ou mista, bem delimitada +/- halo esclerótico, +/- insuflativa; +/- recorte ou afilamento cortical (sem rotura cortical); margens craniocaudais “triangulares”, Ø reação periosteal
- Raramente ⇨ componente extraósseo, cistos ósseos aneurismáticos secundários, ca++ condrais
- +/- deformidade em ossos de carga (MMII) ⇨ fêmur em “cajado de pastor”
- No crânio:
- Aspecto insuflativo é comum devido ao alargamento do espaço diploico
- Tende a envolver apenas 1 lado do crânio (mas pode ser bilateral)
- Deformidade pode causar aparência de querubismo ou de leontíase óssea
- TC é útil para avaliação da matriz (vidro despolido), da integridade da cortical óssea, e avaliação de eventual compressão de nervos cranianos
- RM ⇨ iso/↓T1, ↕T2, realce variável, +/- cistos (hipersinal T2, Ø realce), +/- septos, +/- níveis líquidos (cistos ósseos aneurismáticos secundários)
- Cintilografia óssea e PET ⇨ ↑captação
DICAS
- NÃO tem reação periosteal
- NÃO tem rotura cortical, nem componente extraósseo de partes moles
- Mas pode haver afilamento cortical (sem rotura)
- PODE TER áreas císticas internas, inclusive com níveis (áreas de cistos ósseos aneurismáticos secundários)
- PODE TER diferentes graus de insuflação óssea, ou seja, quando a lesão expande o compartimento medular do osso (aumenta seu volume)
- Lesões na bacia, crânio e mandíbula tendem a ser mais insuflativas
- Lesões em ossos longos tendem a ter somente levemente insuflativas
- Caso haja dúvida no diagnóstico somente pela RM, sugerir complementação com RX ou TC para avaliar se há aspecto de vidro despolido
CONCEITOS GERAIS
Epidemiologia
- ♀ > ♂
- Idade ⇨ 75% tem início em <30 anos (forma poliostótica ⇨ +jovens <10a)
- Lesão óssea benigna mais comum de arcos costais
Associações
- Sd. Mazabraud
- DF geralmente poliostótica, com probabilidade maior de transformação maligna
- Múltiplos tumores fibrosos e mixomatosos de partes moles, dentre eles os mixomas intramusculares
- Sd. McCune-Albright ⇨ 3% da forma poliostótica tem associação com McCune-Albright
- DF poliostótica unilateral
- Endocrinopatias
- Puberdade precoce
- Hipertireoidismo
- Diabetes melitus
- Hiperparatireoidismo (apresentação como raquitismo)
- Acromegalia
- Lesões cutâneas “café-com-leite”
- +/- mixomas de partes moles podem estar presentes
- ♀ > ♂
Mixomas intramusculares se apresentam à RM como massas loculadas simulando cisto (↓T1 e ↑T2 homogêneo), com realce interno não homogêneo e mal definido + realce periférico. Além disso, pode haver halo de gordura (lipossubstituição muscular), edema perilesional e, raramente, cistos internos e níveis líquidos.
Patologia
Distúrbio no remodelamento de osso lamelar imaturo em maduro ⇨ tecido fibroso displásico com trabéculas imaturas +/- componentes císticos, condroides e osteoides
Clinica
- Forma monostótica
- Geralmente assintomática
- Possíveis sinais/sintomas: deformidade do membro; discrepância de comprimento do membro (devido à deformidade); compressão extrínseca de nervo craniano; dor relacionada a fratura patológica
- Forma poliostótica
- 2/3 são sintomáticos aos 10 anos
- Deformidades extensas
- Dor relacionada a fraturas ou microfraturas patológicas ⇨ mais comuns no colo do fêmur ou tíbia
- Outros sinais/sintomas
- Rara associação com osteomalácia oncogênica ⇨ apresentação como fraturas
- Possível aparência craniofacial anormal
- Querubismo ⇨ envolvimento simétrico da mandíbula e maxila
- Autossômico dominante ou esporádico
- Progressão variável até a puberdade; pode regredir na idade adulta
- Leontíase óssea ⇨ envolvimento dos ossos faciais e frontais com fisionomia leonina causada por espessamento ósseo craniofacial grave
- Querubismo ⇨ envolvimento simétrico da mandíbula e maxila
- Paralisia dos nervos cranianos, cefaleia e exoftalmia relacionada a compressão extrínseca pelas lesões ósseas craniofaciais insuflativas
Complicações
- Fratura patológica
- Compressão de nervos cranianos
- Malignização rara (0,4-1%) ⇨ osteossarcoma, fibrossarcoma, condrossarcoma ou sarcoma pleomórfico. Achados suspeitos para malignização (sugerir biopsia óssea):
- Crescimento da lesão
- Destruição cortical
- Componente extraósseo
- Dor (na ausência de fraturas, compressões neurovasculares ou de estruturas regionais)
Tratamento
- Maioria conservador ⇨ bisfosfonados se dor
- Cirurgia
- Estabilização profilática para evitar fraturas, se necessário
- Deformidades podem ser tratadas com osteotomia e enxerto/estabilização óssea
- Curetagem e enxerto ósseo resultam em alta taxa de recorrência (aproxima-se de 100%)
- Compressões neurovasculares também podem ser tratadas cirurgicamente
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
- Fibroma não-ossificante ⇨ excêntrico na metáfise, Ø osteoide interno, calcificação centrípeta com o tempo
- Fibroma condromixoide ⇨ excêntrica na metáfise, aspecto “bolhoso” da cortical (50% rotura cortical), esclerose endosteal, +/- reação periosteal, +↑T2 (mixoide), aspecto multilobulado na RM
- Encondroma ⇨ ca++ condrais, Ø cistos
- Displasia osteofibrosa ⇨ raro, crianças, cortical anterior da tíbia ou fíbula +/- arqueamento anterior
- Paget (fase lítica) ⇨ +velhos; espessamento cortical e trabecular, ↑fosfatase alcalina sérica
- Crânio ⇨ Paget cursa com alargamento focal ou difuso do espaço diploico, com densidade que varia de osteoporose (osteoporose circunscrita) a densa (aparência de algodão), e tende a envolver ambos os lados do crânio (enquanto DP geralmente envolve apenas 1 lado, mas pode também envolver ambos).
- Osteossarcoma de baixo grau ⇨ permeativo, mineralização + densa, reação periosteal agressiva, rotura cortical, comp extraósseo
- Cisto ósseo simples ⇨ +radiolucente, +/- fragmento caído, ↓captação cintilografia
- Cisto ósseo aneurismático (COA) ⇨ excêntrico na metáfise, níveis líquidos, +insuflativo, +/- componente extraósseo
- Tumor de células gigantes (TCG) ⇨ excêntrico na epífise, Ø halo esclerótico, rotura cortical, +/- componente extraósseo
- Histiocitoma fibroso benigno ⇨ epífise e diáfise, intramedular, Ø vidro despolido, lítico com margens escleróticas
- Tumor ósseo lipoesclerosante mixofibroso ⇨ região intertrocantérica do fêmur (90%), +↑T2, +esclerose; +/- gordura (raro); menor captação cintilografia; pode ser difícil diferenciar. Alguns autores o consideram uma forma de displasia fibrosa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-
- Bone Tumors. New York, NY: Springer New York, 2012
- Tumors and Tumor-Like Lesions of Bone. London: Springer London, 2015
- AFIP Atlas of Tumor Pathology. 4th series, Fascicle 2. Tumors of Bones and Joints; 2005
- RadioGraphics 2003; 23:157–177
- Statdx.com
- Radiopaedia.org
- Musculoskeletal Diseases 2021-2024. Cham: Springer International Publishing, 2021